ATA DA QUADRAGÉSIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 19-9-2000.

 

 


Aos dezenove dias do mês de setembro do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e quarenta e oito minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear a Semana Farroupilha e à entrega do Prêmio Glaucus Saraiva ao Senhor Mozart Pereira Soares, nos termos, respectivamente, do Requerimento nº 156/00 (Processo nº 2539/00), de autoria da Mesa Diretora, e do Projeto de Resolução nº 028/00 (Processo nº 1317/00), de autoria do Vereador Reginaldo Pujol. Compuseram a MESA: o Vereador Lauro Hagemann, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; a Senhora Marlova Finger, Secretária Municipal do Meio Ambiente, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Eraci Rocha, Presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, representando a Secretaria Estadual da Cultura; o Senhor Paulo Soares, representante da Secretaria Estadual de Coordenação e Planejamento; o Senhor Mozart Pereira Soares, Homenageado; a Senhora Terezinha Beltrão Soares, esposa do Homenageado; o Vereador Reginaldo Pujol, na ocasião, Secretário "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem o Hino Nacional, interpretado pela cantora Fátima Gimenez e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome das Bancadas do PFL, PDT, PPB, PSDB, PMDB, PPS e PSB, ressaltou a justeza da presente homenagem, destacando a importância da realização de eventos cívicos durante a Semana Farroupilha como forma de demonstrar o comprometimento da comunidade porto-alegrense com o culto às tradições gaúchas. Ainda, historiou o trabalho do Senhor Mozart Pereira Soares, parabenizando-o pelo Prêmio recebido. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, pronunciou-se sobre a necessidade de comemorar e divulgar a Semana Farroupilha, declarando tratar-se de um evento não apenas cultural, mas de integração com outros países da América do Sul. Também, saudou o Senhor Mozart Pereira Soares, ressaltando o merecimento de Sua Senhoria ao Prêmio Glaucus Saraiva, pelo trabalho desenvolvido na defesa das tradições do Rio Grande do Sul. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PTB, discorreu acerca da importância histórica que representa a data de vinte de setembro para o Rio Grande de Sul, evocando os ideais políticos e sociais que nortearam a Revolução Farroupilha e destacando a contribuição do Senhor Mozart Pereira Soares na preservação dos valores culturais do Estado. Em continuidade, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondências alusivas à presente homenagem, enviadas pela Senhora Lúcia Camini, Secretária Estadual da Educação, pelo Desembargador Tael João Selistre, Presidente em exercício do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, e pelo Senhor Cláudio Barros Silva, Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Reginaldo Pujol e a Senhora Neusa Saraiva, viúva do Senhor Glaucus Saraiva, a procederem à entrega, ao Senhor Mozart Pereira Soares, do Prêmio Glaucus Saraiva, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Prêmio recebido. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem o Hino Rio-Grandense, interpretado pela Cantora Fátima Gimenez, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e cinqüenta e um minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima sexta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Lauro Hagemann e secretariados pelo Vereador Reginaldo Pujol, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Reginaldo Pujol, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear a Semana Farroupilha e entregar o Prêmio Glaucus Saraiva ao Il.mo Prof. Mozart Pereira Soares.

Convidamos para compor a Mesa, em primeiro lugar, o Prof. Mozart Pereira Soares e sua esposa, a Sr.ª Terezinha Beltrão Soares; a Sr.ª Marlova Finger, Secretária Municipal do Meio Ambiente, representando o Sr. Prefeito Municipal; o Sr. Eraci Rocha, Presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, representante da Secretaria de Cultura do Estado; o Sr. Paulo Soares, representante da Secretaria da Coordenação e Planejamento do Estado.

A Câmara de Porto Alegre sente-se engalanada nesta tarde por comemorar os dois acontecimentos que se juntam em uma cerimônia só de alta expressão cultural e cívico-social para a nossa Instituição.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Apresentação de Fátima Gimenez que interpreta o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e falará em nome das Bancadas do PFL, PDT, PPB, PSDB, PMDB, PPS e PSB.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes) Esta Sessão Solene é destinada a homenagear a Semana Farroupilha e a entregar o Prêmio Glaucus Saraiva ao emitente Prof. Mozart Pereira Soares, a quem saúdo com profundo respeito e carinho, e, sobretudo, com reconhecimento do seu valor como um dos propugnadores maiores da cultura do Rio Grande.

É com grande satisfação que nós nos fazemos ouvir nesta Sessão Solene que, como já foi acentuado pelo Ver. Lauro Hagemann, tem a dupla finalidade de cumprir um mandamento legal que desde o ano de 1996 impõe a realização desta Sessão Solene, quando da Semana Farroupilha, na data mais próxima ao 20 de Setembro, o que fez coincidir neste ano com a véspera do grande acontecimento já celebrado e consagrado como o Dia do Gaúcho.

A Lei nº 7.855 nos permite que, desde aquela época até o dia de hoje, tradicionalmente, se cumpra esse mandamento legal e se faça em respeito aos objetivos inseridos na própria Lei, que é de promover eventos artísticos e culturais alusivos à tradição gaúcha, à história Rio-Grandense e, especialmente, à manutenção dos ideais da Revolução Farroupilha de 1835 a 1845. E que estabelece, num dos seus dispositivos, mais claramente no art. 4º que, durante toda a Semana Farroupilha, todos os prédios públicos e as escolas municipais, em especial, manterão hasteadas, no período das 8 horas às 18 horas, as bandeiras do Brasil, do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre. Diz mais, e o faz de forma clara, que entre os eventos cívicos da Semana Farroupilha, inclui-se, obrigatoriamente, uma Sessão Solene da Câmara Municipal a ser efetivada em data próxima a 20 de setembro.

Esta referência é no sentido de ressaltar o compromisso que tem esta Casa para com o culto à tradição gaúcha e, sobretudo, como um compromisso solene, assumido pelo Legislativo de Porto Alegre de, em momento algum, esmorecer na perseguição desses objetivos, desses ideais. Nesse sentido, inclusive a própria resolução que instituiu o Prêmio Tradicionalista a Glaucus Saraiva acentua esse particular na medida em que estabelecesse que o Prêmio Glaucus Saraiva será concedido anual e individualmente a personalidade, grupo ou entidade por ocasião da comemoração da Semana Farroupilha e em Sessão Solene alusiva a esta data. A vinculação desses dois dispositivos legais nos permitiu que, nos últimos anos, nós acentuássemos alguns valores importantes do tradicionalismo do Rio Grande, a começar pela figura do Jornalista Antônio Augusto Fagundes, prosseguindo com o meu conterrâneo, Luis Menezes, com o grande escritor gaúcho, Paulo Barbosa Lessa, com a grande propulsora do tradicionalismo do Rio Grande que é a querida Elma Santana, até desembocar, este ano, na sua 5ª Edição, com todo o merecimento da figura do Prof. Mozart Pereira Soares, que no dia de hoje, haverá de receber este Prêmio.

Feitos estes comentários, eu penso que é desnecessário que se acentue as razões pelas quais a Câmara Municipal, com absoluta justiça e por unanimidade, outorgou este Prêmio ao Prof. Mozart Pereira Soares, a este gaúcho nascido na Palmeira das Missões, lá nos idos de 1915, e que por intermédio do tempo como Professor, como homem que ama as coisas do Rio Grande, destacou-se por uma vida comprometida no desenvolvimento do enriquecimento da cultura gaúcha. Com ampla formação cultural, com invejável formação cultural, Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Médico-Veterinário pela Escola de Agronomia e Veterinária da Universidade de Porto Alegre e Técnico-Rural pela Escola Técnica de Agricultura de Viamão, tem ao longo do tempo demonstrado sua preocupação com a aquisição de conhecimentos nos mais amplos e diversos campos do saber, desempenhando, por conseguinte, ao longo de toda essa sua vida tão rica e tão fértil, atividades como professor e chefe da Seção no Instituto Pinheiro Machado da Escola de Engenharia de Porto Alegre, Professor, Técnico e Chefe de Seção da Escola Técnica de Agricultura de Viamão, Professor Catedrático, por concurso, na cátedra de Fisiologia do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ex-Superintendente do Ensino Profissional do Estado, ex-Diretor da Divisão de Valorização do Homem da Fronteira Sudoeste do País, membro da Academia de Letras do Rio Grande do Sul, membro do Instituto Histórico Geográfico da Estância da Poesia Crioula, da Academia Rio-Grandense de História, da Academia Nacional de Medicina Veterinária, Grêmio Literário Castro Alves e da Casa do Poeta sul-rio-grandense. Esse é, em uma síntese, ultra-objetiva, o perfil dinâmico desta figura do nosso companheiro rotariano, que no seu ânimo de servir à sociedade, não só se capacitou ao longo do tempo e recolheu esse cabedal imenso de cultura, que eu qualifico como um dos mais cultos tradicionalistas do Estado, mas também continuou aberto a servir à comunidade, a servir à sociedade. Tendo, por conseguinte, na vida rotária, um campo muito fértil para o desenvolvimento dessa sua vocação, na medida em que nós, rotarianos, sabemos que buscamos servir e não nos servir das situações nas quais somos colocados. Este homem, o Professor Mozart, além da dedicação ao magistério, de membro de variadas associações culturais, é autor de diversas obras que versam sobre os mais diversos assuntos, destacando-se algumas delas, como: “Concepções Anatômicas e Fisiológicas de Aristóteles”, que foi sua tese de doutoramento; “Fatores Convergentes na Descoberta da Circulação Sangüínea”, tese de sua cátedra; “Santo Antônio da Palmeira”; “O Positivismo no Brasil”; “Restauração da Manhã”; “Memórias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul”, em colaboração com Peri Pinto Diniz; e “Mensagem Humanizante do Rotary Internacional”, que constituiu-se em um conjunto de artigos e conferências proferidas no meio de Rotary. Com esse brilhante itinerário cultural, recebeu diversas distinções: Cidadão Emérito de Porto Alegre, título concedido por esta Câmara Municipal; Professor Emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, além de medalhas concedidas pelo Governo do Município de Porto Alegre.

Esse homem que em breve exposição procurei demonstrar é o Prof. Mozart Pereira Soares que, com todas as qualificações já enunciadas, se impôs ao merecimento da decisão do Legislativo de Porto Alegre e passa, inclusive, a dignificar a Comenda Glaucus Saraiva com a inclusão do seu nome entre aqueles vários gaúchos e gaúchas que já a compunham, nessa 5ª edição, em que nós, em plena Semana Farroupilha, em pleno momento de reflexão dos nossos ideais, que coalharam de sangue as coxilhas do Rio Grande, - num determinado momento -, na busca da sua afirmação, temos a obrigação e até o dever com os nossos pósteros de enaltecer - e o fazer com a eloqüência devida - essas figuras que têm contribuído de forma expressiva para que se mantenha perene a chama votiva da tradição pampeana, da tradição gaúcha. Por isso, quero, como autor da proposição, como autor, inclusive, das proposições que geraram a oficialização dos festejos da Revolução Farroupilha no Município de Porto Alegre, da instituição da Comenda Glaucus Saraiva e, agora, da indicação propriamente dita do nome do Professor Mozart Pereira Soares como sendo o homenageado dessa 5ª edição, quero, nessa condição, reafirmar um compromisso, um compromisso que me é fácil reafirmar com a presença aqui entre nós de Vereadores comprometidos com essa causa, entre os quais destacaria, por justiça, o Ver. Elói Guimarães, companheiro de jornada nessa luta de formação da cultura do Rio Grande, à qual vêm se somar companheiros como o Ver. Lauro Hagemann, Ver. Adeli Sell, que, não sendo gaúcho de nascimento, se transformou em gaúcho de coração, e que conosco sempre estão nessa jornada. Nesse momento, Prof. Mozart Pereira Soares, vou-lhe pedir vênia para uma manifestação muito pessoal: eu lamento profundamente que no ano que vem, quando por certo esta Casa estará reunida para festejar, mais uma vez, o épico evento dos Farrapos e entregar ao homenageado do ano, o 6º homenageado, a Comenda Glaucus Saraiva, o Título correspondente, uma ausência teremos que suportar, lamentavelmente: por uma decisão pessoal, o Presidente dos Trabalhos, Ver. Lauro Hagemann, rouba do povo de Porto Alegre o ensejo de mantê-lo nesta Casa onde com tanto brilho esteve por longo tempo. Por isso me permito, com a sua concordância e a sua vênia, já que é uma oportunidade ímpar que surge, proclamar este fato, dizendo que o senhor, entre outras coisas, leva consigo a tranqüilidade de saber que a celebração de sua homenagem, a celebração da Sessão Solene em que oficialmente lhe foi conferido e outorgado o Título Glaucus Saraiva o foi sob a Presidência de um dos mais íntegros homens públicos que já passaram por esta Casa, o meu amigo Ver. Lauro Hagemann, de quem me separo por um abismo na divergência ideológica, mas a quem me uno com profundo respeito pela coerência de suas atitudes.

Então, Prof. Mozart Pereira Soares acho que o destino nos pregou uma peça, e de uma forma muito especial lhe fez a homenagem das homenagens, recebendo o Título numa Sessão presidida por um homem desse quilate, dessa personalidade, que, lamentavelmente, não mais estará nesta Casa a partir do próximo ano.

Era isso Sr. Presidente, era isso caro homenageado, os meus cumprimentos e, sobretudo, o meu reconhecimento de que sua presença na galeria dos homenageados por esta Casa com a Comenda Glaucus Saraiva consolida, dignifica, reforça e realça essa Comenda que já nasceu forte e agora fica mais forte ainda. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): O Ver. Adeli Sell está com a palavra em nome da Bancada do PT.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É uma satisfação muito grande falar em nome da minha Bancada, a Bancada do Partido dos Trabalhadores, nesta Sessão Solene que realizamos a cada ano na Semana Farroupilha, para prestar esta homenagem necessária e justa a esse evento tão importante da nossa história, e também a entrega do prêmio Glaucus Saraiva a este professor de trajetória, de profundo conhecimento das nossas raízes, que é o Prof. Mozart Pereira Soares. Nós, que somos catarinenses de nascimento e gaúchos por adoção, e de coração, pensamos que deveríamos realizar esta Sessão Solene fora desta Casa. Quem sabe no ano que vem, minha cara Prof.ª Marlova, com o que está sendo feito no Parque da Harmonia e em parceria com o Instituto de Tradição e Folclore do Estado, possamos fazer as nossas Sessões Solenes da Semana Farroupilha no Parque da Harmonia. Pelo próprio nome, é um bom local para o nosso congraçamento, para selar essa harmonia entre as várias etnias que compõem o povo gaúcho, e, sem dúvida nenhuma, lembrar - e sempre é bom lembrar e relembrar - as tradições do nosso povo, que não podem ser esquecidas, que devem ser pesquisadas, estudadas e divulgadas como faz o Prof. Mozart. Como outros, eu tenho certeza de que vão se inspirar nos seus escritos, nas suas falas, na sua trajetória, para levar adiante o conhecimento sobre o nosso Estado, sobre a nossa história, sobre as nossas tradições. E nós temos uma longa e vasta história para ser divulgada, cantada. Temos certeza de que esta Casa precisa, a cada ano, prestar a sua parcela de contribuição a esse evento, fazendo com que a Semana Farroupilha seja cada vez mais viva, cada vez mais dinâmica; não apenas um evento cultural do nosso Estado, mas eu diria que, com o seu incremento, nós vamos transformar a Semana Farroupilha num evento turístico e cultural, nós vamos trazer pessoas do extremo sul deste continente: do Uruguai, da Argentina e de outros países para aqui conviverem conosco, não uma semana, mas talvez três semanas, como já está sendo tradição da chamada Semana Farroupilha, que se expandiu. Mais do que isto, acredito que com o nosso trabalho e a nossa dedicação, muito em breve o Parque da Harmonia será um parque temático, parque das tradições do Rio Grande do Sul, e nada melhor do que esta Casa, com os Vereadores que representam o povo de Porto Alegre, fazer a próxima Sessão já em pleno Parque da Harmonia.

A minha saudação de coração ao Prof. Mozart Pereira Soares por este prêmio por demais merecido. A todos que estão aqui, e a todos aqueles que nos assistem na TV Câmara, o nosso orgulho de termos um Estado com muitas tradições, e elas serão preservadas e divulgadas. Boa-tarde e muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): O Ver. Elói Guimarães está com a palavra, e falará em nome do PTB.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero saudar também esta magnífica voz do Rio Grande, que é a Fátima Gimenez. Vou invocar um ausente, que, quando logo se iniciava a Semana Farroupilha, ele tombou, que é o nosso amigo que, por certo, lá no céu, está nos ouvindo, o Almir Ramos, coordenador da 1ª Região Tradicionalista. Então, fica aqui no prólogo, no preâmbulo deste ato, a nossa homenagem àquela grande figura que muito deu ao Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Mas, senhores, senhoras, peões e prendas aqui presentes, amanhã, 20 de setembro, e de resto, durante esta semana, se evoca inquestionavelmente um dos acontecimentos mais contundentes da história - diria até brasileira - mas da história gaúcha, rio-grandense, que foi a saga Farroupilha. Aqueles grandes acontecimentos, onde se plasmou, se fundiu, ali e a partir dali, esse grande caráter do povo rio-grandense, que foi a Revolução Farroupilha.

Então, os ideais da Revolução Farroupilha devem compor o psicológico do gaúcho, do homem rio-grandense.

Os ideais da Revolução Farroupilha, a dignidade, a lealdade, a liberdade e a bravura, devem compor, Prof. Mozart e Eraci, a nossa ideologia, assim como a deste homem e desta mulher que se desenvolveu aqui na estremadura da Pátria, aqui, por assim dizer, no garrão da Pátria, que é o Estado do Rio Grande do Sul.

Então, esses acontecimentos todos, ao longo do tempo, foram encontrando defensores e instrumentos que fizessem com que chegasse até os nossos dias todo esse rico caudal imenso de fatos que, por assim dizer, nos dignificam e nos engrandecem, que foi a Revolução Farroupilha. E um dos instrumentos, grande instrumento, dessa causa - porque os acontecimentos históricos precisam de seguidores - é o que nós temos, na vanguarda da preservação desses valores: algo que se chama Movimento Tradicionalista Gaúcho. Esse Movimento pegou a história farrapa nas mãos e saiu pelo tempo a promover seus acontecimentos.

O nosso tempo é extremamente curto para que nos manifestemos em um momento tão importante, mas quero, com a vênia do Presidente, referir-me, agora, a essa figura extraordinária, sobre quem eu tenho dito que é uma das maiores cabeças deste País. Esse homem está aqui, sentado à Mesa dos trabalhos, sendo homenageado com o Prêmio Glaucus Saraiva. O Prof. Mozart Pereira Soares, um homem de pensamento universal, positivista, um dos homens mais cultos do nosso País está aqui, junto conosco, recebendo esta homenagem. Eu diria que o Prof. Mozart é homem de todos os títulos, meu querido amigo Reginaldo Pujol, V. Ex.ª que propõe esta homenagem, tal a sua contribuição no campo intelectual, tal a sua contribuição no campo das realizações no Estado do Rio Grande do Sul, com o seu pensamento a serviço do Estado. Imaginem um homem que transita pela universidade e pelo galpão, que conhece a universidade rude, que é o galpão, as suas coisas, as suas lidas, mas que é também um intelectual. Todos nós, aqui, o assistimos em memoráveis palestras pelas nossa universidades, falando sobre os mais diferentes temas.

Que momento magnífico, singular, é este que vive a Casa do Povo de Porto Alegre, nesta data, quando homenageia a figura amazônica, gigantesca do Prof. Mozart Pereira Soares e também homenageia esse evento que demarca a grandeza do povo gaúcho, que é a Revolução Farroupilha.

Recebam todos, Prof. Mozart, o senhor, a sua esposa, os seus amigos aqui presentes, seus familiares a nossa homenagem.

E para encerrar, rapidamente, uma das antologias do Glaucus Saraiva, esse que foi nosso grande amigo, homem de galpão, que andava sempre nas lidas tradicionalistas, quero declamar rapidamente aqui O Chimarrão, que constitui o elo de fraternidade, de irmandade, de igualdade entre todos nós. Todos nos igualamos, no chimarrão, no mate amargo. Em homenagem ao Prof. Mozart Pereira Soares, O Chimarrão, que diz mais ou menos assim:

“ Amargo doce que eu sorvo, num beijo em lábios de prata; tens o perfume da mata molhada pelo sereno; e a cuia, seio moreno, que passa de mão em mão, traduz no meu chimarrão, em sua simplicidade, a velha hospitalidade da gente do meu rincão; trazes a minha lembrança, neste teu sabor selvagem, a mística beberagem do feiticeiro Charrua; o perfil da lança nua encravada na coxilha, apontando firme a trilha por onde andou a história empoeirada de glória das tradições farroupilhas. Em teus últimos arrancos, no ronco do teu findar, ouço um potro corcovear na imensidão desse pampa. Em minha mente se estampa, reboando dos confins, a voz febril dos clarins repenicando avançar. Então me fico a pensar, apertando os lábios assim, que o amargo que está no fim, a seiva forte que eu sinto, é o sangue de 35 que volta verde para mim.” Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

 O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Esta Presidência registra, com muita satisfação, mensagens de apoio ao Professor Mozart Pereira Soares, endereçadas pela Prof.ª Lúcia Camini, ilustre Secretária da Educação do Estado. Também registramos a mensagem do Des. Tael João Celistre em nome da Presidência do Tribunal de Justiça do Estado, e também um telegrama do Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público Dr. Cláudio Barros Silva em homenagem ao Professor.

Procederemos à entrega do Prêmio Glaucus Saraiva, que será feita pelo Ver. Reginaldo Pujol, proponente da homenagem, e pela Sr.ª Neuza Saraiva, viúva de Glaucus Saraiva.

 

(Procede-se à entrega do Prêmio Glaucus Saraiva ao homenageado.) (Palmas.)

 

O Sr. Mozart Pereira Soares está com a palavra.

 

O SR. MOZART PEREIRA SOARES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Prezado Ver. Reginaldo Pujol, de quem recebi uma comovente saudação e que foi o proponente desta homenagem que recebo agradecido e engrandecido.

Primeiro, como reverência à alta entidade que a tutela, qual seja, esta colenda Câmara, da qual, pela segunda vez, recebo distinção comovedora. A primeira foi como Cidadão Emérito de Porto Alegre, e esta homenagem agora que recorda uma figura das mais dignas para paraninfar um ato como este. Segundo, porque ele foi um poeta, uma figura tocada pela alta graça, que é a procuração social que detém o poeta para exprimir a verdade e a beleza como uma expressão de todo um povo que ele simbolizou com grande mérito e que ficou ressoando nos destinos do Rio Grande.

Tive a honra de contar com a amizade de Glaucus Saraiva. Vou fazer aqui uma confissão: um dos momentos mais comovedores da minha vida foi o dia em que ouvi, Ver. Elói Guimarães, Luiz Carlos Paixão Cortes declamar O Chimarrão, de Glaucus Saraiva, que, de chofre, como que evocou todo um cosmorama que resume a minha própria existência. Sou filho de Palmeira das Missões, a terra da erva, e me criei à sombra dos ervais, ansiava por comungar com expressões como aquela que acabava de ouvir na voz extraordinária de Paixão Cortes, no dia em que o Governador Walter Jobim foi recebido em uma homenagem no Município de Viamão, a homenagem que teve como momento mais alto, sem dúvida alguma, a declamação daquela mensagem eterna.

Meus queridos amigos, é difícil retratar a emoção que eu senti no instante em que toda a minha existência se resumia num poema tratado com um luxo verbal por um poeta cujas imagens são, sem dúvida, as mais lindas que o Rio Grande tem num poema simbólico do seu próprio destino, que é a celebração da erva-mate.

Não vou cansar o meu auditório, tão atento e que vem aqui me ajudar a receber uma mensagem que é, sem dúvida, o símbolo maior da hora em que nós estamos vivendo. Casualmente, o dia 19, que foi o dia em que o Rio Grande se mobilizou, para, na madrugada seguinte, do dia 20, desencadear aquele movimento imortal.

Tenho vivido, tenho lido, tenho praticado em torno deste evento as minhas celebrações íntimas e até públicas e sempre venho recordando, como um protesto, embora mudo, a minha repulsa ao academicismo que tem procurado desvalorizar o gaúcho. Alguns deles chegaram ao ponto de escrever obras até respeitáveis pela sua fatura literária, mas equivocadas no seu conteúdo moral, quando têm afirmado que é necessário desmitificar o mito gauchesco. Não há povo que possa celebrar os seus valores, se eles não forem embasados nos mitos, o que é uma atitude de reverência eterna para com o passado, presente e o futuro da humanidade. Repudiar os mitos é uma das atitudes negativas mais deploráveis que o homem pode adotar. Indiscutivelmente. O Rio Grande, meus queridos amigos e minhas amigas, não é melhor nem pior do que ninguém, mas ele é profundamente diferente, e agora mesmo ouvindo um catarinense que aqui me saudou, e cuja saudação eu retribuo agradecido, evoco o destino de Santa Catarina unido ao Rio Grande do Sul na Revolução Farroupilha e mais do que isso, o Rio Grande é forte, porque é filho de um bravo santo macho que é São Paulo e de uma terna santa fêmea que é Santa Catarina. Ai está a grandeza simbólica do Rio Grande do Sul, filho desses dois santos maravilhosos. Esse meu sentimento, eu tenho proclamado aonde quer que ande.

Não quero deixar passar este momento sem contar que o Glaucus Saraiva era comensal e bebensal da minha Casa; a sua figura olímpica, majestosa, de poeta era ali recebida com verdadeira ternura, com verdadeira unção, e ele era acompanhado pela prenda que está ali sentada à nossa direita, que une a sua beleza ao seu talento, essa missioneira que mora em nossos dois corações há tanto tempo. E quero informar mais, ela foi incumbida pelo Rio Grande do Sul de levar ao poeta que tanto merecia o vinho da ternura e a hóstia do afeto. Foste tu, incumbida de assistir com o teu amor àquele que tanto o mereceu.

Meus queridos amigos, não vou me prolongar, creio que já falei demais, mas não quero terminar sem dizer a vocês que o Rio Grande do Sul, pela sua atitude moral, é um reservatório de dignidade no Brasil; e o fato de ele ser povoado por catarinenses, pois os açorianos que constituem a matriz portuguesa do Rio Grande do Sul são catarinenses, e o mais importante é que para cá vieram os casais que deram ao Rio Grande do Sul o seu lastro de dignidade, que é um exemplo para o Brasil. Basta esse título para que nós, cheios de orgulho, possamos levantar os nossos corações e agradecer ao nosso destino que fez com que o Rio Grande do Sul pudesse ser um exemplo para o Brasil. O passado não é modelo, mas é exemplo; e esse exemplo do Rio Grande do Sul é maior no Brasil.

Muito obrigado por esta homenagem comovente. E em meu nome e em nome de minha esposa, de quem tenho recebido o maior amparo na vida, sem a qual talvez eu não estivesse sentado aqui e merecendo esta homenagem. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Estamos chegando ao final desta Sessão Solene que foi realizada para homenagear a Semana Farroupilha e entregar o Prêmio Glaucus Saraiva para o ilustre Prof. Mozart Pereira Soares. Eu não poderia deixar de dizer que para esta Casa é uma honra muito grande a realização deste evento duplo nesta tarde. Feliz da pátria que pode ter na sua constelação de fatos históricos um episódio como a Revolução Farroupilha, que é um exemplo de dignidade, de honradez, de perseverança e, sobretudo, de patriotismo para este País tão carente dessas coisas e tão diverso na sua formação e, sobretudo para esta Casa, é uma excelsa honra ter podido homenagear o Prof. Mozart Pereira Soares com o Prêmio Glaucus Saraiva. Um ilustre conterrâneo nosso, que muitos de nós tivemos a satisfação de tê-lo no nosso convívio e que tão cedo de nós se apartou.

Ao Prof. Mozart Pereira Soares as homenagens da Câmara Municipal de Porto Alegre. A essa figura inexcedível de homem culto, não se precisa dizer mais. É um homem que transita com facilidade entre o galpão e a universidade, como já foi referido, e, sobretudo, para nós, que somos a síntese do galpão e da universidade, esta Casa se sente sumamente honrada em conceder este Título.

Para encerrar esta Sessão, convido a todos para, em pé, ouvirmos, mais uma vez, a voz maviosa de Fátima Gimenez cantando o Hino Rio-Grandense.

 

(Fátima Gimenez canta o Hino Rio-Grandense.) (Palmas.)

                                                              

Agradecemos as presenças ilustres que honraram esta Sessão e um agradecimento especial à Fátima Gimenez por ter abrilhantado esta Sessão Solene.

Ao Prof. Mozart Pereira Soares, à sua esposa, Dona Terezinha Beltrão Soares, à representante do Prefeito, ao representante do IGTF, da Secretaria de Cultura e da Secretaria de Planejamento e Coordenação, aos ilustres amigos que aqui vieram prestigiar o Prof. Mozart Pereira Soares, os nossos agradecimentos. Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

(Encerra-se a Sessão às 18h51min.)

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